domingo, 14 de julho de 2013

Capítulo Um

Nosso corpo se trombou, o meu, descendo a grande escada do metrô, levando uma vasilha com alguns doces que eu tinha preparado, resistindo com várias camadas de roupa ao frio da estação de Shibuya em pleno inverno. Correndo e sem tempo, eu não enxergava ninguém à minha frente. O dele, saindo da estação enquanto passava a mão em seu liso cabelo, seu corpo magro e coberto pelo colete de couro marrom, a camisa de moletom azul e a camisa cinza por baixo estalaram junto ao meu. Sua bolsa de couro quase da mesma cor do seu colete bateu em meu corpo e causou uma dor pequena na altura do estomago.  Os doces voaram e fizeram parte daquele teto sem cor da estação misturado com as propagandas de cantores e produtos. Alguns gritos e risadas também estavam lá. E o que ele fez foi apenas dizer desculpa e sair. Saiu andando e me deixou lá. Os doces caindo um a um no chão e minha vasilha rachada com a queda. Maldito!

Eu sempre sou chamado para as festas na república da Yuko. Desde que cheguei ao Japão a 3 semanas atras, ela fez 5 festas. Isto porque disse que é quase Natal. Queria ver o que rola no aniversário dela. Yuko é muito simpática. Japonesa por descendência, adora se arrumar e encher a cara de maquiagem. Sempre muito bem arrumara e com o cabelo devidamente produzido em um salão qualquer de Tóquio. Ela não tinha nada a ver comigo. Sou Juliano Gardner, meio cheinho, bom, tenho um metro e setenta e cinco e peso noventa. Acho que dá para imaginar que não sou tão magro. Meus cabelo cortado meio skin e meu tênis meio gastado já comprovam que eu não sou muito de me arrumar. Mas eu estava tentando. A dois meses passei em um exame no Brasil para intercambio no Japão. Eu estudava Designer no meu país e sempre foi minha vontade estudar designe no Japão. Yuko também. Conheci ela em um fórum da internet. Ela disse que, quando eu fosse para o Japão, poderia contar com ela. E está sendo assim.

Está fazendo muito frio hoje e Yuko disse que iria preparar um pequeno jantar com Kare e arroz para todos nós. Eu fiquei de levar doces. Como eu não tenho uma situação monetária muito boa, a Yuko pediu para que eu fizesse de casa, mas agora estão aqui, todos destruídos na minha mão. Bom, eu me acostumei com os Japoneses. Ninguém me ajudou a colher nenhum dos doces. Mas também, o que um cara como eu estava fazendo em Shibuya com um monte de doces? Legal. Os doces já não prestavam mais, então, os joguei fora. Tinha que pensar em alguma coisa enquanto me dirigia para a casa de Yuko. E queria encontrar de novo aquele cara para dizer que ele pelo menos deveria me ajudar a ter colhido meus doces!

- Comprou os doces né Jullian. O que eu disse sobre compra-los? - Yuki pegou a vasilha e colocou sobre a mesa
- Como sabe que eu os comprei? 
- Por favor, as forminhas vem com o logotipo da loja. - disse ela pegando um dos doces e me mostrando.
- Olha, quanta distraçáo a minha.
- Ai, não posso mesmo contar com você. Eu deveria ter ido na sua casa. Quanto foi?
- Ah, não, não foi nada, eu tenho um dinheiro sobrando.
- Não, quanto foi? Pelo menos deixe eu te dar metade.
- Bom, foi... quinze mil ienes.
- Quinze mil? O que tem nesses bolinhos? - Yuko tira uma bolsinha com dinheiro de dentro da blusa
- Sério, não precisa. Quero pelo menos uma vez ajudar de verdade.
- E porque não fez os doces?
- Eu fiz. Até tirei fotos olha. - ele pega o celular e mostra fotos para a garota que o fitava desconfiada - Mas no meio do caminho, um cara trombou em mim e todos voaram pelos ares e quebrou, um por um... Até minha vasilha quebrou. 
- Sei.
- É verdade.
- E porque não me ligou?
- Você tem algum poder que faz bolinhos doces se regenerarem?
- Não.
- Por isto não te liguei.
- Bom, mas eu ajudaria a comprar novos.
- Não, não se importe. Olhe, vamos fazer como no brasil. - Jullian anda até os bolinhos - vamos tirar os bolinhos daqui e colocar em outro lugar e falar que nós fizemos. 
- Jullian.
- Oi.
- Está falando sério?
- Porque não? Uma vez fiz isto e até hoje minha família acha que eu fiz o doce de pessego.
- Você é hilário. - Yuko riu e se sentou no sofá de frente para ele - Sabe, acho que deveria se mudar para cá.
- Está me zuando?
- É sério. Olha, dois brasileiros morando juntos. Seria um show. Ainda mais, eu ando muito sozinha, não é a toa que faço este monte de festa.
- Mas aqui em Shinjuku... Olha, depois do metro mais cheio da minha vida eu não sei.
- Seria mais fácil ir para a faculdade. 
- Não sei.
- Ah, vamos. Tenho dois quartos vazios. As vezes até vejo gente dentro de casa andando.
- Ai credo. - os dois riem.
- É sério, queria alguém que me fizesse companhia, por favor. Quando eu chego da faculdade eu fico até triste aqui, o que me resta é comer e engordar.
- Tudo bem, mas eu ficaria no quarto do seu irmão? Porque o outro você não usa como dispensa?
- Ele não vem aqui, ele e eu somos brigados.
- Vai ser pior ainda quando ele ver que tem um estranho no quarto dele.
- Nada. Olha. Se ele vier aqui um dia nos 2 anos que você ficar aqui, eu prometo que te levo na França na minha formatura.
- Olha lá em.
- É sério. Já estou aqui a um ano e meio sem ele. Verdade. E já morou um menino no quarto dele por três meses. Ele ficou sabendo, mas não por mim e sim pela empregada. Ai ela foi proibida de limpar o quarto dele.
- E o menino vivia na poeira do momento. - Jullian se sentou ao lado dela no sofá.
- Nada, eu paguei a mais para ela limpar e a esperta, claro, não recusou. Mas parou depois de um tempo.
- Bom, mas se ele descobrir e ficar muito furioso...
- Jullian, é sim ou não pelo amor de Deus.
- Tá, tudo bem, eu aceito. - Yuko gritou e começou a pular no sofá.
- Seremos grandes amigos de quarto. Amanhã vamos na pensão e pegamos suas coisas.
- Tudo bem.
- FOFO! 

A noite na casa da Yuko foi super agradável. Jantaram na companhia de alguns amigos de Yuko que Jullian adorou conhecer e eles foram ver um filme no quarto de Yuko. Adormeceram um por um e por fim, Jullian adormeceu. Acordou pela manhã com o pé da Yuko na sua cara e foi até a cozinha preparar alguma coisa. Na parte da tarde, Yuko e Jullian saíram em direção à Shibuya, onde ficava a pensão. Jullian vive em um quarto único com um banheiro. Yuko entrou e se sentou na pequena cama que ficava abaixo da janela mau coberta por um lençol e sorriu.

- Aqui... Aqui é bem simples.
- Não se preocupe. Quero que viva bem comigo. Acho que sinto falta de um irmão... Acho que...
- Porque não pede desculpas para ele. - Yuko se levanta e puxa o lençol para entrar um pouco de luz
- Não é tão fácil.
- Porque?
- Pode pegar suas coisas logo? - disse ela rindo
- Desculpa, estou sendo incherido demais.
- Não é isto. É que... Não gosto de me lembrar.
- Tudo bem, desculpa.
- Um dia, eu te conto, prometo... Mas a vista daqui é linda.
- Que bipolar.
- É sério, não sabia que sua vista era tao linda.
- A única coisa linda aqui, né?
- É... Seu quarto não é lá um luxo, mas é fofo. Meu prédio também tem uma vista muito bonita, depois te mostro amigo.
- Okay Yuko, obrigado.

O quarto do irmão de Yuko não era pequeno como o quarto antigo de Jullian. Uma cama de casal no centro, um guarda-roupas embutido e uma suite com um grande chuveiro deixavam o quarto maior do que ele parecia ser. A escrivaninha com um computador empoeirado e uma estante de livro estavam ao lado de uma janela grande e coberta. Yuko entrou no quarto com braços cruzados e se virou para Jullian. Ela passou a mão no quarda roupa e deu um sorriso sem graça. Jullian colocou suas coisas sobre a cama macia e então olhou ao seu redor. Era realmente um quarto grande. Uma pena não ter ninguém nele.

- Olha, vou chamar alguém para limpa-lo amanhã.
- Não precisa Yuko, eu mesmo limpo. A propósito, guarde o computador dele na dispensa.
- Ah, não, pode usar. Este computador é meu, esqueci de pegar de volta com o ultimo menino que viveu aqui. É um presente para você, pronto.
- Eu não posso aceitar.
- Eu não estou te dando opção.
- Ai, que encrenca. Me da um quarto e depois um notebook.
- Eu não estou te dando o quarto, estou emprestando. 
- Okay... - Jullian fica sem graça
- Sua cara... - ela solta uma risada - foi ótima... Juro. eu estava brincando. É seu, enquanto eu viver aqui. Por falar nisto, pode usar o telefone quando quiser, fica atrás do livro azul escondido. Era uma tática do meu irmão para conversar de madrugada ou ouvir nossas conversas. É só apertar o zero e discar. Ligue para seus pais quando quiser também. 
- É, daqui a dois dias é o Natal.
- Sim. Por falar nisto, vamos a uma festa de Natal, um banquete na casa de uma família, então eu costumo dormir lá. Se não se sentir confortável, pode voltar e dormir aqui. 
- Tudo bem. 
- Eu gostaria de te apresentar para várias pessoas aqui no Japão. Isto vai te ajudar muito com sua carreira, garanto.
- Obrigado Yuko.
- Não há de que, agora, comprimento dos brasileiros.
- Eu não conheço isto.
- É, não existe. Achei que sairia alguma coisa. - disse a garota saindo do quarto enquanto Jullian ria.




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