sexta-feira, 19 de julho de 2013

Capítulo Três

Jullian estava parado encostado na porta olhando para a escuridão diante dos seus olhos. A janela tampada pela cortinha ainda doava um pouco de luz para o ambiente, no qual Jullian via a pessoa deitada olhando para ele. Em um novo impulso, Jullian tirou a chave da fechadura, saiu do quarto e trancou a porta. A pessoa tinha abrido a porta, a abriria de novo. Ele precisava de alguma coisa para se proteger. Olhou para a porta da dispensa e sabia que a única coisa que ele teria forte o suficiente para bater em alguém era um cabo de vassoura. Abriu a porta da dispensa e pegou a primeira vassoura que encontrou, saiu e se sentou no canto da sala. "Preciso ligar para a polícia", pensou. Mas o telefone ficava atrás da estantes de livros e seu celular estava no quarto ao lado do notebook. Que droga, ele estava encurralado. Jullian se moveu até a porta e ela estava trancada, mas porque alguém faria isto? Andou novamente para a sala e olhou pela janela. Não tinha ninguém que poderia gritar, era tarde e as pessoas estariam dormindo, porque Natal não é algo comemorado no Japão. Jullian se sentou e deixou o cabo de vassoura em seu colo. Ficou no canto da sala olhando fixadamente para o corredor. Seus olhos estavam pesados de sono, ele não sabia o que fazer. Já tinham passado trinta minutos, quarenta e, então, Jullian havia adormecido.

- Ei garoto, acorda. - Jullian ouvia a voz te chamar e abriu os olhos aos poucos. Começou a ver diante de você um japonesá jovem e de cabelos lisos. Jullian esfregou o olho e se espreguiçou. Acabou dormindo ali no canto da sala mesmo - Você está bem?
- Eu... - Jullian então se lembrou e, em um impulso, levantou e sacou o cabo de vassoura em direção do japonês - Que é você?
- Seu japonês não é ruim em? - perguntou o jovem
- Quem é você? Me responda, o que faz aqui? - o cabo de vassoura chegava cada vez mais perto do japonês.
- Ei ei, calminha ai... - o japonês saiu andando em direção da cozinha e abriu a geladeira.

Jullian agora o via nitidamente, seu cabelo molhado e preto com as pontas pintadas em um tom azul escuro brilhavam com a luz do sol que entrava naquela sala. Estava sem camisa, mostrando seu peitoral liso e delineado, que dizia claramente que o jovem japonês adorava uma academia. Usava uma calça azul jeans, entreaberta e sem o cinto. O Japonês abriu um sorriso congelante para Jullian e passou a mão no cabelo, Jullian engoliu seco meio timidamente e então voltou a ficar alerta, ao ver que o Japonês vinha para o seu lado. Na mão do Japonês, dois copos de suco de laranja balançavam com o movimento dócil do mesmo, ao oferecer um dos copos para Jullian.

- Beba.
- Eu... Eu não quero.
- Que idiotice, tome logo. E largue esta vassoura. Eu não sou nenhum ladrão. - Jullian colocou a vassoura encostada na parede e timidamente pegou o copo - E então, quem é você?
- Eu te perguntei primeiro.
- Ah, certo. Você não deve me conhecer mesmo. Bom, pode me chamar como quiser, afinal,  depois de eu dizer quem sou talvez você queira me estapear mais. - disse o japonês rindo
- Não brinque, deve ser algum tarado de fim de ano.
- Oi? - o japonês coloca o copo de suco entre as pernas e descansa os cotovelos em seus joelhos e abre um sorriso - Que criativo.
- Bom...
- Não precisa ficar com medo. não sou ninguém em especial. Alias, tenho até que ir embora, já são nove horas.
- Você não vai embora enquanto não me disser quem é.
- Ah, verdade. Isto. Bom, meu nome é Murakami Masato.
- Você... Você é o irmão da Yuko!
- É, este sou eu. - ele bebe um pouco do suco.
- O que está fazendo aqui?
- Eu sempre venho aqui quando sei que ela ficará fora por mais de 1 dia. - ele se levanta e vai até a janela - A vista deste lugar me trás umas boas recordações.
- Mas, aqui? Você e Yuko não se odeiam?
- Se fosse com ela, eu e ela não eramos brigados, não é?
- Eu não estou entendendo.
- Bom, acontece que a Yuko não te contou o porque de não conversarmos, e não será eu que vou te contar, então, senhor que não sei o nome, eu vou me retirar antes que a Yuko chegue. - Masato anda em direção aos corredores do quarto.
- Jullian... - Jullian começa e Masato para e o olha - Jullian Gardner, é meu nome.
- Olha... - Masato vai até ele e pega no queixo de Jullian - Vou te chamar de Juh.
- Você se acha intimo? - Jullian retira a mão de Masato de seu queixo e anda em direção da cozinha.
- Você vive em meu quarto, não acho mais que normal.
- É, mas quem cuida do seu quarto sou eu. Eu limpo, eu arrumo, eu lavo o seu banheiro. Então, Murakami-san, não me trate como se me conhecesse.
- Você tem o temperamento da Yuko. Por falar nisto, não diga a ela que eu estive aqui.Venho em segredo aqui a muito tempo e não gostaria que fosse revelado. - Masato sai da sala e entra no quarto. Jullian deixa o copo sobre a pia e vai atrás dele - O quer, quer me ver por a roupa agora?
- Não, eu só vim ver se não vai pegar nada.
- Oi? - Masato ri - Quem está morando de favor não sou eu. Aliás, eu tenho dinheiro para comprar tudo o que tem neste quarto pelo menos 50 vezes.
- Não é por valor, é só para proteger a Yuko.
- Ah garoto. Para proteger a Yuko e não deixa-la triste, é só não dizer que eu venho aqui. - Masato se levanta e abotoa a camisa - E eu não preciso pegar nada, o que me faz sentir bem não está aqui dentro deste apartamento. Eu te disse que tem a ver com a vista.
- E o que seria? - Masato se levanta e aproxima de Jullian, que engole seco e cora.
- Bom, Gardner-san, não me trate como se me conhecesse. - diz Masato, saindo por de trás de Jullian, que escuta a porta bater.

Yuko abre a porta do seu apartamento e sente algo estranho. Olha ao seu redor e respira fundo para sentir um cheiro de perfume que não é o habitual em sua residencia. Após colocar a bolsa sobre a bancada da cozinha, ela via até o quarto de Jullian. Mexe na fechadura mas ela esta trancada. Ela então anda para o seu quarto e coça os olhos. Então sente o cheiro diferente de perfume novamente. Ela cheira a mão e ve que ela esta com o cheiro do perfume. Ela volta para o quarto de Jullian e olha para a porta e da uma risada. "Safado", ela fala baixinho. E então se vira para ir ao seu quarto, quando a porta de Jullian abre. O garoto estava com olheiras fundas e uma cara amassada. Yuko fica estática ao olhar o garoto naquele estado e tenta olhar por cima do seu ombro.
- O que é Yuko? - perguntou o garoto
- Ahn? Ah! Nada. Eu só... Senti um perfume diferente aqui dentro de casa.
- Perfume? - Jullian respira fundo e sente o cheiro do perfume - Ah, isto. Eu peguei uma amostra grátis hoje de manhã no mercado e acabei quebrando o frasco.
- Ah, sério? - pergunta Yuko inconformada.
- Sim.
- Mercado? - ela olha o relógio e são meio dia.
- Mas porque acordou cedo, saiu e voltou a dormir?
- Oi?- Jullian olhou para ela e ela estava sem nenhum semblante no rosto - Eu tive dor de barriga, ai fui comprar um anti acido.
- Nossa. Ah, então vou me deitar mais um pouco. - ela se vira e Jullian se escora na porta. Ela para e olha novamente para o garoto - Mas... Eu não importaria se trouxesse alguém para cá. Tudo bem?
- O que esta dizendo?
- Alguém. - Yuko balança o corpo - Hum? Me entende?
- Yuko...
- Tá, tudo bem, eu parei. Boa tarde para você. - ela entra em seu quarto e Jullian fecha a porta.

Jullian tomava um café olhando para fora da janela do apartamento de Yuko. O que chamava a atenção de Masato ali? Para ele eram só prédios e carros andando por entre as ruas longas e movimentadas de Shinjuku. Ele lembrou do rosto de Masato se aproximando do seu e sorriu. Sorriu? O que estava fazendo?Jullian da uns tapinhas em seu rosto e se vira indo em direção à cozinha. Ele então vê os dois copos de suco ali sujos. Ele pega no copo de Masato e lembra dele oferecendo um copo de suco. "Jullian, você está maluco", imaginou enquanto abria a torneira para lavar os copos. Agora mesmo, o que Jullian menos queria era lembrar da cara do grosso Masato. Yuko saiu de seu quarto com um roupão roxo e sorriu para Jullian ao passar e ir para a geladeira. Jullian retribuiu sem graça por estar escondendo de Yuko o fato de Masato ter estado lá durante a noite. Ele pegou o PSP que Tashiro deu para ele em seu bolso e o ligou. Sentou no sofá e começou a jogar. Yuko olhada Jullian de longe, ele não parecia bem para ela. Depois de algumas goladas de água, ela se aproxima dele.
- Está sentindo falta da sua família?
- Um pouco.
- É por isto que está triste?
- Eu não estou triste.
- Olha Jullian, esta bem estranho sim. - ela senta ao lado dele e coloca a mão na testa de Jullian - Está realmente tudo bem?
- Claro que sim. 
- Você é tão energético...
- Só estou cansado. 
- Bom, vou acreditar. - Yuko anda até a janela e bebe mais um gole de água - Quer sair?
- Onde quer ir?
- Estava pensando em mais a noite ir no Asakusa Hana-Yashiki. Eu nunca tenho companhia para ir. Meus amigos preferem os parques mais caros. É bem longe daqui, mas era o parque que minha mãe me levava quando eu era mais nova e morávamos em Taitou.
- É claro que eu topo Yuko. Será um prazer. Além do mais, não conheço a região de Taitou ainda.
- É, Tóquio é bem grande amiguinho. Mas logo saberá onde achar tudo. Garanto. - Yuko sorri e sai da sala para tomar um banho, Jullian a segue com os olhos e depois olha para a janela que brilhava com o entardecer.

Asakusa Hana-Yashiki ou apenas Asakura é o parque mais antigo no Japão que perdura até os dias atuais. Ele fica em Taitou, um bairro mais simples de Tóquio. É famoso por ser rodeado de bancas de comida e bastante entretenimento noturno para jovens e crianças. A noite estava muito bonita e propícia para uma boa saída noturna. Yuko e Jullian desceram do táxi na estreita rua de entrada do parque. Yuko paga o táxi e sorridente, pega a mão de Jullian e corre em direção ao grande arco que informa a entrada do Asakusa. As cores brilhantes e encantadoras de todos os restaurantes e vendinhas que circulam o parque encantaram Jullian em uma magnitude incrível. Eles entraram no parque e Yuko parecia uma criança. Foi logo comprando ticket para a montanha russa e para a Bee Tower, uma torre com um monte de casinha pendurada que fica rodando a 30 metros de altura. Jullian estava se divertindo muito. Dentro da cabine, Jullian se encantou com a paisagem noturna vista do alto. Yuko então começou a chorar. Jullian a olhou e ela sorriu. Jullian não queria perguntar nada, sabia que aquele lugar mexa com Yuko, e estava feliz por estar com ela ali. Yuko saiu da Bee Tower louca para ir ao banheiro. Ela deixou Jullian em frente a um carrinho de algodão doce (comendo algodão doce) enquanto ia ao toalete, como ela disse. Jullian observava ao seu redor. Tudo aquilo para ele era um sonho que ele esperou por tanto tempo que não acreditava no que estava vivenciando. Ele então olha para a barraca de Ramen. Ele queria comer Ramen agora.

Você anda me seguindo...? - uma voz por de trás de Jullian o fez esfriar a espinha - Gardner-san?

Jullian estava estabilizado olhando para frente. A boca do jovem japonês chegou perto de sua orelha e novamente perguntou se ele o estava seguindo, depois soltou um sorriso sarcástico. Jullian se virou para ele ficando cara-a-cara. Como sua timidez sempre o atrapalhou com tudo, ele virou o rosto e sentiu o hálito de ramén ainda quente saindo da boca de Masato.
- Porque veio de tão longe para este parque? - perguntou Masato e Jullian mordeu um pedaço do Algodão doce.
- Este parque, também te trás alguma boa lembrança? - perguntou mastigando e olhando de lado o japonês.
- Nenhuma.
- Que coisa. Já estava quase achando que em cada pedaço do Japão você tinha uma lembrança.
- Larga de ser idiota. - Jullian olhou para ele o censurando.
- Olha quem fala. Acha que eu estou te seguindo para que em?
- Sei lá. - Masato se aproxima e toca o queixo de Jullian - Talvez você tenha me achado atraente, não? - o rosto de Jullian estava queimando e ele percebeu algumas japonesas comentarem "que desperdício" enquanto passavam.
- O que... O que esta fazendo? - perguntou Jullian retirando o rosto da mão quente de Masato.
- Você está sem jeito? Que lindo.
- Ei. Masato. - uma voz feminina surge de por de trás de Masato. Jullian olha por cima do ombro dele e ve uma linda japonesa bem vestida, com cabelos loiros e brilhantes parada. Masato se vira e a pega pela mão - Demorou tanto.
- O banheiro estava lotado. - eles se beijam, Jullian se sentiu idiota e abaixou a cabeça - Quem é ele?
- Alguém.
- Alguém? - Falou a japonesa e Jullian olhou de lado cabisbaixo, ele realmente se sentia humilhado - Bom, melhor irmos.
- Sim, vamos. - os dois saem mas Masato vira o rosto para Jullian - Até mais.

Jullian ficou parado, o algodão doce em sua mão estava abaixado e ele sentiu seus olhos se encherem de água. Logo estava chorando. Jullian se encostou em uma alegoria atrás do carrinho de algodão doce e continuou chorando. Como alguém pode te-lo tratado tão mau? Ele também foi idiota. É claro que Masato teria uma namorada. Mas, agora ele entendia. Entendia todo o ódio que Yuko sentia por ele. Este Masato era insignificante. Yuko vinha em calmos passos até que viu Jullian entristecido, então começou a correr. Parou diante do garoto e ele a abraçou chorando. Ela acariciou o cabelo de Jullian e ele chorou ainda mais.
- O que aconteceu?
- Yuko por favor eu preciso te contar uma coisa. - dizia chorando
- Ei. Ei. Calma. - Yuko falava português e tocou o rosto dele limpando as lágrimas.
- Yuko, eu... Eu...
- Esta sentindo falta de sua casa? - Jullian responde negativamente com a cabeça.
- Eu... Eu gosto de homens Yuko. - Yuko sorri docemente e o abraça.
- Não fique assim por isto, é algo normal.
- Mas o problema não é só este. Eu jamais conseguirei alguém aqui no japão que goste de mim. Eu sou gordo, não tenho o esteriótipo de que um japonês goste. Olhe para mim. Seria a última coisa que alguém iria querer.
- Do que está falando?
- É verdade. Eu...
- Ei. - Yuko olha para ele - Alguém japonês te disse isto?
- Não.
- Alguém aqui te disse isto agora?
- Não.
- Então não há motivos para pensar assim. - Jullian olhou para Yuko - E quanto a você ser Gay, olhe, eu já desconfiava desde quando te conheci pela internet. Aliás, ontem, quando senti o cheiro de perfume masculino em casa, achei que tinha levado algum afair para lá.
- Quem me dera. - ele ri e Yuko enxuga as lagrimas dele.
- Quero que me prometa que vai parar de pensar assim e viver sua vida normalmente no Japão. Amor chega com o tempo, primeiro, pense em você.
- Tudo bem, eu prometo. Desculpe estragar a noite.
- Ah querido. Por favor. Você não me conhece. A minha noite só estraga com uma morte. Você só me deu um motivo para eu comemorar mais com você. Agora vá no banheiro e lave o rosto. Vamos curtir. - Jullian abraça ela, entrega os algodões doce e sai, ela então pega o algodão doce e dá uma mordida - É porque você não percebeu Jullian, mas já tem um japonês meio a fim de você.




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